sexta-feira, 9 de março de 2007

"Passa um navio ao largo dos meus olhos"

Passa um navio ao largo dos meus olhos

Estava cheio,
Íamos todos a bordo,
Todos, até o menino mau,
Aquele que me roubou o pão no outro dia.
Estamos todos felizes
Não há inimigos,
Não há os ricos, nem os pobres
Somos todos amigos.
Temos muito que comer,
Duas mesas, bem vejo,
Acho que nos vão durar para um ano inteiro,
Somos muitos, mas partilhamos.
Temos uma piscina,
Podemos brincar livremente,
Ninguém nos prende.
Temos também, um quarto
Com camas,
São confortáveis, têm cobertores,
Não temos frio.
Temos roupa, fazemos trocas engraçadas
Que sensação boa…
Somos livres
O navio vai devagar
Podemos mergulhar,
Nadar com os golfinhos…
O mar é imenso, o sol está-se a por.
O azul imenso está a desaparecer
Já há pouca água…

Afinal, o navio é feito de folhas,
O mar é apenas uma poça enlameada
Era apenas um sonho,
Uma brincadeira
Um desejo de uma menina africana.


(concurso literário - ESLAV - centenário do nascimento de Miguel Torga)

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